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Inovação incremental ou disruptiva?

Eu, às vezes, faço um exercício que é o de me colocar na posição do CEO de uma grande empresa. Esse dilema, investir em inovação incremental ou disruptiva, é uma das grandes dúvidas que surgem no processo de inovar das empresas, especialmente no Brasil. Porém, antes de avançarmos na análise dessa questão que, já adianto, não tem resposta fácil, vamos primeiro entender os conceitos que cercam esses dois níveis de inovação.

Características da Inovação Incremental

A inovação com características de incremental é aquela em que a empresa já possui um produto, serviço, processo ou modelo de negócios que vai receber apenas melhorias significativas. Em outras palavras, trata-se de um tipo de inovação que vai promover uma melhor performance do produto. Normalmente o produto, por exemplo, já está consolidado no mercado e a empresa realiza melhorias que vão fazer com que tenha melhor performance. Via de regra esse nível de inovação é a mais comum de encontrar nas empresas. É o que eu chamo de inovação para defesa do negócio. Ou seja, na inovação incremental a empresa realiza melhorias para o cliente continuar comprando.

No que tange ao B2B, as inovações são requeridas, muitas vezes, pelos próprios clientes. Nesse caso, ainda que seja uma melhoria customizada, o produto recebeu investimento e pesquisa para performar de acordo com as necessidades do cliente, o que geralmente pode ser enquadrada como inovação de menor grau de risco, ou apenas, inovação incremental. Trata-se de inovar no que é conhecido, controlar o investimento e ter resultados mais rápidos.

Características da Inovação DISRUPTIVA

Já a inovação disruptiva é o oposto. Podemos dizer que é inovação disruptiva quando rompe ou abala paradigmas já estabelecidos no mercado. Geralmente é um produto totalmente novo ou um produto que, de tão aprimorado, acaba impactando fortemente seu nicho de mercado. Quando a empresa consegue gerar inovações nesse patamar, acaba tendo grande retorno financeiro e seu nível de competitividade evolui significativamente. Entretanto, por ser uma zona ainda desconhecida, o investimento possui maior incerteza e, portanto, o grau de risco é muito maior. Requer desprendimento do empresário porque os recursos depositados para gerar a inovação disruptiva necessariamente não serão traduzidos em resultado positivo, ou a performance pode não acontecer na velocidade que ele deseja.

inovação incremental ou disruptiva?

Muito bem, colocadas os conceitos gerais que cercam os dois níveis de inovação, vem então a grande questão: inovação incremental ou disruptiva? Como vimos, a primeira garante a defesa do negócio já conhecido, tem menos incerteza e gera retorno mais rápido. Porém a empresa fica vulnerável e até obsoleta. Um prato cheio para a sana da concorrência. Já a segunda, vai carregar mais risco, retorno incerto e um investimento que não vai gerar nota fiscal imediata. Entretanto, quando a empresa acerta a mão e consegue inovar nesse nível, com certeza sai na frente, ganha mercado e geralmente muito dinheiro.

E agora?

Bem… eu comecei dizendo que eu procuro me colocar na pele do CEO, certo? Seguindo nesse sentido, eu, CEO, seguramente faria uma profunda (e não demorada, por favor) análise do perfil de inovação da empresa. Um diagnóstico sincero, sem o coração e, especialmente, sem acomodação. Quais têm sido as inovações da empresa? Quantas pessoas estão envolvidas diretamente e quantas indiretamente? Quanto custa? Qual o retorno? Há risco? Há desafios? Qual o impacto dessas inovações?

Aqui, o CEO terá mais clareza do perfil da sua empresa no que se refere à inovação. Talvez ele até confirme que nos últimos tempos a sua empresa apenas tem se dedicado à defesa do negócio, com inovações incrementais.

Fechado o diagnóstico de inovação da empresa é hora de abrir a empresa para diversificação. Na pele do CEO eu criaria uma arquitetura de investimentos. O que é isso? Eu levantaria três pilares de investimento: 1) inovação incremental 2) inovação disruptiva e 3) inovação aberta. Então, se a empresa tem, por exemplo, 1 milhão para investir em inovação, eu faria a distribuição desse valor. Hoje, todo o investimento geralmente vai apenas para as inovações incrementais. Com a diversificação de investimentos, se a empresa tem um perfil mais conservador, eu deixaria a maior fatia dos recursos para as inovações incrementais, por exemplo, 60%. Depois colocaria recursos para as inovações de risco com algo em torno de 20% e, por fim, colocaria um pé em open innovation, buscando fazer parcerias com startups, ICT´s e Universidades, por exemplo, com investimento de 20% do orçamento previsto para a inovação.

SUA EMPRESA NÃO PODE FICAR PARADA NO TEMPO

Gradualmente, à medida que a empresa adquirir mais amadurecimento, os percentuais com certeza vão mudar. O que não dá é exigir do empresário que, de uma hora para outra, ele passe o seu investimento em inovação totalmente para as inovações disruptivas. Acho triste quando ouço em vários fóruns que o empresário brasileiro não é audacioso e apenas investe na defesa do negócio. Concordo apenas parcialmente. O CEO conhece muito bem o dia a dia, precisa fazer a sua empresa responder à essas demandas mais próximas. Fora que estamos no Brasil e isso, per si, já estremece qualquer ousadia.

Porém, concordo que a empresa não pode ficar parada no tempo “esperando a morte chegar” (parafraseando Raul Seixas). Então, como CEO de uma empresa, eu adotaria sim, de forma urgente, medidas para que a empresa desenvolva postura inovativa mais aguerrida. Penso que a gestão de investimento em inovação que tenho adotado em várias empresas torna possível diversificar com qualidade e maior certeza.

CONCLUINDO

A inovação é, sem dúvida, um mecanismo de defesa e de ataque. A incremental defende, a disruptiva é ataque. Como todo jogo, é importante equilibrar os dois. Construir uma arquitetura de investimentos que leve a empresa diversificar seu nível de inovação e fazer frente à concorrência. Tenho muita clareza e experiência em afirmar que é possível criar estratégia sólida que trará maior envergadura para a inovação da empresa, ao mesmo tempo que fará sentido aos acionistas.

Com todo respeito, time que apenas se defende, invariavelmente acaba sem ganhar o jogo e, em muito casos, perde de lavada.

Meu nome é Célia Marçola e foi um prazer conversar com você,

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